Quis cantat, bis ora (Santo Agostinho)
Eu morava numa casa de apartamento em Nova York, e não conhecia nenhum de meus vizinhos. Tendo resolvido ser cantora, aplicava em lições de canto quase tudo quanto ganhava. As lições importavam em exercícios - e eu dedicava todo o momento de folga a escalas e árias.
Um dia de manhã, ia eu saindo às pressas para o trabalho, cantarolando uma ária que eu acabava de estudar, quando encontrei na escada uma de minhas vizinhas. Ela me olhou um momento e depois perguntou, hesitante:
- A senhora é a moça que está sempre cantando?
Senti que ficava vermelha.
- Infelizmente sou eu mesma - disse eu e fugi.
Dias depois, eu refletia sobre a minha desesperada ambição musical. Seria tolice minha continuar? Quase em pânico, agarrei uma peça de música. Era um arranjo magnífico do Padre-Nosso. Minha coragem voltou.
Radiante fui para o meio da sala e cantei-a com toda a alma. Devo tê-la cantado cinco ou seis vezes.
Passados mais uns dias, ouvi um barulhinho na minha porta. Voltei-me e vi que alguém enfiava um bilhete por baixo dela. Dizia o seguinte:
“Se algum dia sentir desânimo, talvez isto a ajude. As coisas têm corrido mal para mim - tão mal que eu não queria viver mais. Quando ouvia você estudar, sentia-me um pouco melhor, porque você parecia ter algum objetivo na vida. Afinal, uma noite dessas, resolvi acabar com tudo, acabar com a minha vida. Fui à cozinha e abri o gás. Nesse momento, ouvi você cantando. Era o Padre-Nosso. De repente, compreendi o que estava fazendo. Fechei o gás, abri as janelas e aspirei o ar puro. Você cantou a oração várias vezes. Pois fique sabendo que salvou a minha vida. Deu-me coragem para tomar uma resolução que deveria ter tomado há muito tempo. Agora, tenho tudo o que podia querer. Obrigada para sempre.”
Fonte: Seleções do Readeŕs Digest Junho de 1954
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