Inicia-se mais um curso de férias promovido pelos Arautos
do Evangelho, para os alunos do Projeto Futuro e Vida das diversas cidades do
Brasil e do Mundo. O tema dessas férias é a oração, e um dos pontos tratados no
primeiro dia foram sobre as condições indispensáveis para fazer uma boa oração.
Muitas pessoas rezam e não obtêm o esperado, porque
não pedem como convém: Petitis et non accipitis,
eo quod male petatis, “Pedis e não recebeis, porque pedis mal”. (Tg 4,3) Para rezar bem é preciso, em primeiro
lugar, a atenção, pois o distraído
não agrada a Deus, porque divide sua capacidade cognoscitiva com coisas
corriqueiras e com isso não eleva a mente devidamente aos céus.
Em segundo lugar, a
humildade. Deus resiste aos soberbos,
e não lhes atende aos pedidos; mas dá
a sua graça aos humildes, (Tg 4,6) e não deixa os seus pedidos sem os
deferir. “A oração do que se humilha, penetrará as nuvens e não se retirará
enquanto o Altíssimo não puser nela os olhos.”(Eclo 35, 21) E isto acontece, ainda que a pessoa tenha sido
anteriormente pecadora, porquanto Deus
não desprezará um coração contrito e humilhado. (Sl 50, 19)
Em terceiro lugar é preciso a confiança, que nos faz esperar tudo pelos merecimentos de Jesus Cristo e pela intercessão de Maria Santíssima. Nullus speravit in Domine et confusus est, (Eclo 2, 11) – “Ninguém esperou no Senhor e ficou confundido”. Ensina-nos Jesus Cristo mesmo que, quando tenhamos alguma graça a pedir, não O chamemos com outro nome além do de Pai: Pater noster, a fim de que oremos com toda a confiança que é própria do filho para com o pai. O que pede com confiança obtém tudo. “Eu vos digo”, assim fala o Senhor, “que todas as coisas que pedirdes orando, crede que as recebereis, e elas vos acudirão” (Mc 11, 24)
E quem pode recear, pergunta Santo Agostinho, ser
enganado no que foi prometido pela própria Verdade, que é Deus? A Escritura nos
afiança que Deus não é como os homens, que prometem e depois faltam à palavra,
ou porque mentem quando prometem, ou porque mudam de vontade. Dixit ergo, et non faciet?(Nm
23, 19) Santo Agostinho ainda acrescenta: Se o Senhor não nos
quisesse conceder as graças, para que nos havia de exortar continuamente a
pedir-lhas? Prometendo, contraiu a obrigação de nos dar as graças que Lhe
suplicamos. Promittendo, debitorem se
fecit.
O que importa sobretudo, é ter perseverança na oração. Diz Cornélio a Lápide que o Senhor “quer
que sejamos perseverantes na oração até a importunação”. É o que significam os
textos seguintes da Escritura: É preciso
orar sempre; (Lc 18, 1) Vigiai sempre, orando (Lc 21, 16); Orai sem
cessar. (1Ts 5, 17) É o que
significam ainda estas repetições: Pedi e
recebereis; buscai e achareis; batei à porta e ela se vos abrirá. (Lc
11, 9) Bastava ter dito: pedi,
petite; mas o Senhor nos quis fazer compreender que devemos seguir o
exemplo dos mendigos, que nunca deixam de pedir, de insistir e de bater à
porta, enquanto não tenham recebido alguma esmola.
A perseverança final, especialmente, é uma graça que
se não obtém sem oração contínua. Nós não podemos merecer a perseverança, mas
merecemo-la de algum modo, diz Santo Agostinho, por meio das orações. Rezemos,
pois, sempre, e não deixemos de rezar, se nos quisermos salvar. Os confessores
e os pregadores nunca deixem de exortar à oração, se quiserem que as almas se
salvem; porquanto o que reza certamente
se salva, e o que não reza certamente se condena.
Meu Deus, tenho confiança de que já me perdoastes; mas
meus inimigos não deixarão de me combater até à morte. Se não me socorrerdes,
sucumbirei de novo. Suplico-Vos, pelos merecimentos de Jesus Cristo, que me
concedais a santa perseverança. Não
permitais que me afaste de Vós. Peço-Vos o mesmo favor para todos os que
estão atualmente na vossa graça. Confiado em vossas promessas, estou certo de
que me dareis a perseverança, se continuar a pedi-la. Receio, porém, que nas
tentações deixe de recorrer a Vós, e assim torne a cair em pecado. Peço-Vos,
pois, a graça de nunca deixar de rezar. Fazei que nas ocasiões perigosas me
recomende sempre a Vós, e chame em meu auxílio os santíssimos Nomes de Jesus e
Maria. É o que estou resolvido a fazer sempre, e espero fazê-lo pela vossa
graça. Atendei-me pelo amor de Jesus Cristo. – Ó Maria, minha Mãe, fazei que
nos perigos de perder o meu Deus, sempre recorra a Vós e a vosso Filho.
Fonte: Pe. Thiago Maria Cristini, C. SS. R., “Meditações para todos os
dias do ano tiradas das obras de Santo Afonso Maria de Ligório, Bispo e Doutor
da Igreja”, Herder e Cia., tomo II, págs. 293 - 295, Friburgo em Brisgau,
Alemanha, 1921.
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